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27 de agosto de 2025Casos reais revelam como ataques e falhas digitais ameaçam a aviação e exigem ação imediata
No mês de agosto celebramos o Dia Nacional da Aviação (19), e aproveito a oportunidade para reconhecer a importância histórica desse setor para o desenvolvimento econômico de diversos segmentos. Contudo, além de homenagens e avanços tecnológicos, o momento sugere uma reflexão: em um ambiente tão dependente da tecnologia, como a aviação está se protegendo das crescentes ameaças cibernéticas? A resposta precisa ir além dos protocolos tradicionais. Cibersegurança, hoje, é parte inseparável da infraestrutura crítica da aviação e ignorá-la significa abrir caminho para falhas operacionais, perdas bilionárias e riscos à vida humana.
Um exemplo emblemático ocorreu em julho de 2024, quando uma falha em uma atualização do software de uma empresa de cibersegurança causou instabilidade em cerca de 8,5 milhões de computadores em todo o mundo. O impacto foi imediato: voos cancelados em grandes hubs como Atlanta, Frankfurt, Hong Kong e São Paulo, longas filas em aeroportos e prejuízos severos para companhias aéreas. Embora não tenha sido um ataque cibernético, o episódio evidenciou a fragilidade das infraestruturas digitais do setor e mostrou como uma falha técnica (mesmo involuntária) pode ter efeitos colaterais devastadores em escala global.
Outro caso alarmante foi o escândalo da AOG Technics, revelado em outubro de 2023. A empresa, sediada no Reino Unido, comercializava peças para motores aeronáuticos com documentação falsificada. Os certificados de liberação adulterados foram aceitos e inseridos nos motores da CFM International, que equipa parte significativa da aviação comercial do mundo. A falha ocorreu na ausência de verificação automatizada e confiável dos dados associados. Foi um golpe direto na confiança da cadeia de suprimentos aeroespacial e um lembrete de que, sem validação digital adequada, mesmo relações comerciais consolidadas podem ocultar ameaças graves à segurança operacional.
Fortalecer as defesas digitais é inadiável
Diante de incidentes como esses, cresce o consenso de que a aviação precisa adotar uma abordagem mais madura e integrada em relação à segurança digital. Uma das soluções mais eficazes é o uso de assinaturas digitais baseadas em Infraestrutura de Chave Pública (PKI). Essa tecnologia garante que documentos, contratos, certificados e sistemas de comunicação possam ser autenticados de forma criptograficamente segura. Com ela, a origem das informações é verificada e protegida contra adulterações, o que reduz consideravelmente o risco de fraudes como as praticadas no caso da AOG Technics.
Além disso, é fundamental que os sistemas críticos estejam constantemente atualizados. A demora na aplicação de correções ou a dependência de infraestruturas legadas, como ficou claro na situação do apagão cibernético de 2024, amplia a exposição a falhas e ataques. Autenticação Multifator (MFA) é outro elemento vital — muitas das invasões mais recentes, especialmente via e-mail corporativo, poderiam ser evitadas com esse tipo de barreira adicional. O monitoramento contínuo de redes e dados, com apoio de inteligência artificial e machine learning, também pode identificar padrões de comportamento anômalos e neutralizar ameaças antes que se concretizem.
As empresas do setor devem, ainda, revisar a arquitetura de seus sistemas para garantir que haja resiliência frente a falhas. Isso inclui estabelecer redes segmentadas, backups testados com frequência e planos claros de contingência em caso de incidentes. Mas nada disso substitui o fator humano. É indispensável investir em treinamento recorrente de equipes, simulando situações reais de phishing e vazamento de dados, de forma a criar uma cultura interna de vigilância ativa e responsabilidade compartilhada.
O setor de aviação está pronto para enfrentar as ameaças invisíveis do mundo digital? A resposta, infelizmente, ainda é incerta. Incidentes como os mencionados anteriormente mostraram que não há mais espaço para fragilidades, seja na verificação de documentos, na proteção de sistemas ou na resposta a eventos imprevistos. A confiança, no setor aéreo, sempre foi construída com base na segurança. Reforçar a cibersegurança não é apenas uma medida técnica, é uma responsabilidade ética.
Por Luiza Dias – Diretora Presidente da GlobalSign para o Brasil | IT Forum


